quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Hollywood - ou porque o bosque de azevinhos não foi o bosque sagrado - (II)


Um dado a ter em conta é que Hollywood ou a industria do cinema nasce antes de que nascera o cinema (o cinema segundo o inventou D. W. Griffith e não segundo a invenção técnico-mecânica de Edison e os Lumière).

Hollywood como lugar do cinema nasceu à raiz da feroz briga entre o poderoso cartel comandado por Edison no Leste, a Motion Pictures Patents Company (M.P.P.C.), que agrupava a companhias como a Biograph, a Vitagraph, a Essanay entre outras norte-americanas, mais as francesas Pathé e Mélies, grupo este monopolista, e o grupo dos produtores autodenominados “independentes”, quase todos empresários judeus que haviam ascendido vertiginosamente em seu poder econômico em atividades alheias ao cinema e que agora viam um novo negócio onde o lucro poderia ser exorbitante.

Uma guerra, então, entre protestante norte-americanos ou WASP (o Trust Edison) e hábeis judeus em ascensão (agrupados na Independent Motion Pictures Distributing and Sales, IMP) foi a que decidiu a formação da “Meca do cinema”. Para fugir destes processos constantes para dominar o crescente mercado cinematográfico (ainda cinematográfico e não cinema), um adiantado, o produtor William Selig, se mudou em 1907 a Los Angeles para filmar exteriores e encontrar o lugar adequado para estabelecer-se. Outros produtores o imitaram e chegaram até aquele subúrbio de Los Angeles chamado Hollywood, isto é, bosque de azevinhos. Alguns associaram esta mudança com a anterior e lendária conquista do distante Oeste, especialmente pelas disputas constantes e violentas e os personagens peculiares que por ali circundavam.

Os primeiros produtores judeus se associaram na Independent Motion Pictures Distributing and Sales, IMP. Em 1912 se converteria na Universal.

Se o leitor tem em mente que o cinema – não como procedimento técnico-mecânico, se não como “linguagem” – nasce a partir do gênio D. W. Griffith, que realiza seu primeiro curta no ano de 1908, pode dizer-se então que Hollywood nasceu antes do cinema, tal como hoje o conhecemos. Isto é, o cinema nasce como fábrica e indústria (com todas as precariedades do caso) antes que como lugar ou taller de arte, pois este ainda estava por inventar-se. Foi graças a Griffith e seus descobrimentos das possibilidades do novo meio que a industria se assentou e aproveitou tais inovações porque, não se duvide que Griffith, também, como acertou em dizer uma vez Faretta, veterano ator partidário da causa sulista, desenvolveu a linguagem do cinema e influenciou sobre todos os que se acercavam à esta nova expressão artística. Foi sem dúvidas o inventor ou pelo menos o sistematizador de todos os recursos que formaram a linguagem do novo meio que, desde então, se conhece como cinema.

O cinema norte-americano nascerá destes pioneiros que construíram a maior e mais influente industria cultural do mundo, de onde se albergaram os maiores talentos em matéria e desde de onde também se difundiu um modo de ver a vida subordinado à corrente da história da qual se movia.

Portanto, é de conhecimento de todos que o cinema como industria foi obra dos judeus, eles mesmos se encarregaram de recordar que é obra sua. Como e de que maneira articularam seu poder e quê classe de visão do mundo teriam para oferecer, se é que pensaram neste assunto na hora de produzir espetáculos para o mundo?

Devemos recordar, antes de mais nada, qual era o país em que estes imigrantes foram acolhidos e prosperaram, integrando-se sem dificuldades e tranquilamente.

Continua...

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Hollywood - ou porque o bosque de azevinhos não foi o bosque sagrado - (I)


Há uma visão extremamente reducionista das coisas que alimenta dois erros com respeito à Hollywood, a chamada por alguns “Meca” do cinema. A primeira visão, extremamente cética, encontra em tudo o que ali se fez o condenável, pernicioso, corrupto e pestífero, sem distinguir matizes e sem ver que houve exemplos de filmes “não-hollywoodenses” que saíram das mesmas entranhas de Hollywood, ainda que sem apoio massivo, e como simples derivados de uma grande industria comercial que podia permitir-se tais luxos, ainda que sem uma negação formal e explicita das idéias dominantes nos Estados Unidos. Para estes Hollywood é – ou melhor, foi, porque hoje só resta o cartelzinho e o suposto “glamour” dos palavreados – uma cloaca da qual não podiam sair se não excrescências do liberalismo e paganismo que conquistam o mundo. É inegável que em geral não se equivocam quando vemos o curso que as coisas tomaram a partir da ordem instaurada desde o final da Segunda Guerra Mundial, na qual e desde a qual houve a padronização oficial ecumênica pelo cinema norte-americano, apesar de sua variedade superficial. Não obstante, esta visão não pode encerrar-se em si mesma sem ser injusta com muitos valores resgatáveis em meio à produção de tantos filmes. Porque, além do mais, Hollywood dependia da demanda e recepção de um publico em uma sociedade norte-americana que ainda conservava o senso comum, onde a Igreja católica estadounidense – que sempre foi liberal – foi muito poderosa para influenciar em questões de índole moral, em um povo nascido e marcado pelo puritanismo protestante, ainda não degradado como nestes tempos de absolutas “liberdades”. A profusão de talentos e idéias e sua possibilidade de recepção nesse universo em que aparece os Estados Unidos permitiam a elaboração de certas visões não uniformizadas ou laterais a respeito da mentalidade que se terminou impondo-se a partir de meados dos anos 60.

A segunda visão, de marca oposta, também realiza uma simplificação, como que opondo-se dialeticamente à primeira. É aquela que postula uma visão amena ou sonhadora de Hollywood, onde desde os grandes estúdios se havia sustentado uma visão do mundo oposta ao “american way of life” dos WASP (ndt: White, Anglo-Saxon and Protestant, sigla que corresponde a “branco, anglo-saxão e protestante”, definição pejorativa dada de forma generalizada a maior parte da população norte-americana), devido a que em Hollywood os que decidiam eram os judeus associados a católicos. Esta postura afirma que “o cinema norte-americano, sobretudo em sua etapa clássica, foi uma cunha em relação à visão política, econômica, cultural e sobretudo religiosa no que chamamos forma de vida estadounidense. E esta é o paradoxo: Hollywood, sobretudo em sua etapa clássica, não participou do “modo de vida norte-americano”. O mesmo crítico que sustenta este ponto de vista sustenta que da mesma forma que há uma lenda negra sobre a Conquista espanhola da América, assim também havia uma “lenda negra” a respeito de “Hollywood”. Veremos logo a presteza de tal acerto, fundado principalmente em um erro religioso contaminado de liberalismo e em um desconhecimento acerca da verdadeira natureza ou identidade de poder.

O certo é que tanto uma como a outra posição pecam de simplistas e, de algum modo, cômodas para delimitar desde agora e para sempre um assunto que é muito mais complexo, quanto fascinante. Como dizia Chesterton: “devemos desconfiar da descrição de uma nação quando é uma descrição fácil. Se um povo pode ficar coberto por um só adjetivo, podemos estar seguros de que é um adjetivo equivocado.”

Veremos que isto a nosso entender não é nem lenda negra nem lenda branca sobre Hollywood. Nem dissolução romântica do poder ou descida de linha política, mas tampouco pólo de poder ou “contra-poder tradicional” dos produtores de Hollywood, que se não foram míopes a respeito de questões artísticas tampouco foram Príncipes mecenas do Renascimento. Trataremos de entender porque o “bosque de azevinhos” não foi nunca o pretendido “bosque sagrado”. Mas antes façamos um pouco de história.

Continua...